Tão Lindo

Entre ruínas fui criado
Frei Farol me viu nascer
Ó menina tem cuidado
A dança é com pés no chão
Diz-se cobras e lagartos
Da obra que eu fiz erguer
Só que as vigas estão fundadas
E um dia haverá razão

Não adianta ver o todo pela metade
Siga o caminho o Vidente anunciou
A Lebre está no prado
As silvas no silvado
Olé
Ai é tão lindo!
Ai é tão lindo!

Dona Isilda cante o fado
Que a rainha já morreu
Quem tem cu vê com atraso
Em César o que é seu
Já dizia o Shô Gonçalves
Emigrado no Gerês
Onde é que hoje se penhora
Um Moby português

Os mensageiros da luso-tempestade
Já eram fufas muito antes do Prior
Há festa na herdade
Se o Amo acorda tarde
Olé
Ai é tão lindo!
Ai é tão lindo!

A Lebre está no prado
As silvas no silvado
Olé
Ai é tão lindo!
Ai é tão lindo!


Informações:

 Disponível no álbum Virou! (2009).
Letra: Jorge Cruz.
Música arranjada por Diabo na Cruz a partir de canções de Jorge Cruz.
Produzido por Jorge Cruz. 
Co-produzido por B Fachada e Nelson Carvalho.
Misturado e masterizado por Nelson Carvalho.

Curiosidades:
• "Tão Lindo" contém uma das várias alusões à Lebre ("A Lebre está no prado/ As silvas no silvado") ao longo da discografia de Diabo na Cruz - ver também O Regresso da Lebre, Verde Milho, Fecha a Loja e Vil'Alva a Vila Ruiva.

• Quem é o "Moby português"? Jorge Cruz responde: «Não sei quem é, mas houve, em tempos, quem andasse à sua procura. Essa referência ao Moby português no Tão Lindo é dedicada a uma geração que passou o tempo a achar que em Portugal os músicos deviam ser meras cópias do que de bom existisse lá fora.»

•  Sobre o verso "Os mensageiros da luso-tempestade/ Já eram fufas muito antes do Prior” Jorge Cruz disse: «Durante muito tempo, colocaram-se obstáculos à música portuguesa, e em particular às pessoas que escreviam sobre ela. Passaram-se tempos de baixa autoestima em que o melhor que lhes podia acontecer, quando ouviam um novo grupo português, era soar-lhes tão bem ou parecido a modelos internacionais. Isso adiou a autoralidade, originalidade e identidade da música lusitana. Muitos artistas que estavam a tentar fazer as coisas de outra forma eram vistos como foleiros, só por cantarem em português. E assim cantava-se em inglês, numa percentagem esmagadora. [Nesse verso] falamos de como as mesmas pessoas, de repente, acordaram para o boom da nova música portuguesa, como se não tivessem participado no silenciar desse género que foi feito antes.»

Comentários:
•  «Canção maior que desmistifica qualquer ideia de folclore puro e duro – isto aqui é mesmo rock popular português com uma camada de teclados deliciosa e guitarras que conferem um toada dançável e nos deixa a pensar “porque não foi isto feito antes?”» Rua de Baixo