O Regresso da Lebre

Era sua a arma de três canos
E a torneira da foz do Nilo
Fora vista em fuga há onze anos
Junto à cova do Monte Esquilo

Venham ver, diz o Galo
Ai, que medo!, grita a Flor
Tem os corninhos do Diabo
E os dedinhos do Senhor

Voltou, voltou
A Lebre voltou
Voltou, voltou
A Lebre voltou
Voltou, voltou
A Lebre voltou
Voltou, voltou, voltou.


Informações:

Disponível no álbum Virou! (2009).
Letra: Jorge Cruz.
Música arranjada por Diabo na Cruz a partir de canções de Jorge Cruz.
Produzido por Jorge Cruz. 
Co-produzido por B Fachada e Nelson Carvalho.
Misturado e masterizado por Nelson Carvalho.

Curiosidades:
• "O Regresso da Lebre" contém a primeira de cinco alusões à Lebre ao longo da discografia de Diabo na Cruz - ver também Tão Lindo, Verde Milho, Fecha a Loja e Vil'Alva a Vila Ruiva. Jorge Cruz: «A Lebre é o fio condutor da obra de Diabo. Está na primeira música do primeiro disco e, se Deus quiser, há-de estar na última música do último disco.»

• "O Regresso da Lebre" conta com a voz de Vitorino e percussões de Rui Alves (músico do Quinteto Tati e Real Combo Lisbonense).

• Jorge Cruz sobre a escolha de Vitorino para a canção: «Já no meu disco anterior tinha feito uma versão do “Extravagante”, um tradicional alentejano, e penso que isso ter-lhe-á chamado a atenção. Foi uma honra enorme, porque é uma pessoa por quem tenho uma enorme admiração, e foi um convite natural, que já tinha sido conversado em bastidores. Acabou por ser neste momento e veio mesmo a calhar, foi como dar-nos autorização de mexermos sem pudor nas nossas linguagens.» 


• Jorge Cruz: «O disco tem na presença do Vitorino um forte simbolismo; ele serve de ponte entre duas margens que viveram separadas durante mais de trinta anos: a da Música Moderna Portuguesa, que acabamos em parte por representar, e a da Música Popular Portuguesa, que tem sido muito mal engavetada na época revolucionária. Há muito que a nossa música carece de um Tropicalismo que venha emancipar-nos e unir-nos, que junte o génio de José Afonso ao de António Variações, sem fronteiras. O Diabo na Cruz escolhe a História da Música Popular Brasileira como exemplo e a música anglo-saxónica como influência incontornável. Acredito que existam muitas outras maneiras de convidar a Música Moderna Portuguesa a encontrar-se com a sua raiz.”

• Jorge Cruz: «Vitorino? É o maior! É um classicista, um homem que aprecia o bel canto e que corta o pão alentejano com canivete quando vamos almoçar. Um homem do Portugal rural e, ao mesmo tempo, da boémia lisboeta. Veste um colete e veste a música dele como um colete. Há nele algo de profundamente genuíno e de altamente teatralizado que o torna um pop. Nós não reconhecemos o pop que temos, mas isto é que é o nosso pop, estas é que são as nossas figuras.»


Comentários:
• «No início do disco, Vitorino Salomé, de voz envolta em percussões, avisa que as raízes mais profundas da nossa árvore musical estão de volta à superfície. Para que se duvide, guitarras cospem electricidade e parece que o interrompem. Mas, e ainda antes que o refrão seja cantado em coro, constata-se que as canções soam: ora, modernas; ora, tradicionais. E o disco gira fazendo tudo isto, e ainda mais, ao mesmo tempo. É, provavelmente, neste equilíbrio, gerido com harmonia e mestria, que soa bem.» As Horas Extraordinárias