Saias de roda bordadas Por baixo escondem meias Meias de irmãs solteiras Que rodam nas paradas Descem a rua a sorrir cansadas Mulheres bonitas e feias O bom dos verões é o desfile das saias Que torna vilões os amigos das catraias Saias vistosas, travadas Saias passeadas e corridas Saias a girar com o vento a entrar Agarram-se aos punhos das camisas Saias levantadas Roda e meia volta Cintura solta E o baile a ir, a ir e a rodar Meia volta Uma volta pra acabar Saias da roda de amigas À noite são sirenes Razões de amores perenes E de querelas antigas Vão aos salões onde nascem brigas Treinar entradas solenes Rapazes sãos viram loucos a ver saias Que rodam nas mãos de Dianas e Soraias Encontrei em Junho de 93 O teu número Era só ligar E talvez pudesse ser o teu par Par, par, par, par Ah, não fossem as saias As outras saias Saias de aventuras Lições duras de aprender Quando não se sabe bem o que se quer E a mulher É um mistério que se escapa entre Saias e saias e saias Saias curtinhas e compridas Saias a girar Com o vento a entrar Rodadas em danças prometidas Saias de roda, rodai-as Saias campinas e urbanas Que batem quarteirões, ateiam emoções Nas cintas de Soraias e Dianas Saias levantadas Roda e meia volta Cintura solta E o baile a ir, a ir e a rodar E a roda a andar, a andar e a esculpir Uma esquina de revolta Meia volta Uma volta pra acabar Ah É ver pra acreditar |
Informações: • Disponível no álbum Diabo na Cruz (2014). Letra e música por Jorge Cruz. Produzido por Jorge Cruz e Sérgio Pires. Misturado por Nelson Carvalho. Masterizado por Andy VanDette. • Disponível no EP Saias (2016). Misturado por João Bessa. Masterizado por João Tereso. Recriação por Vasco Casais. Remix de Luso Beat (Manuel Pinheiro). • Vídeo de Joana Faria (realização) e Adriana Montes (ilustrações). Curiosidades: • “Saias” é o quarto single retirado do álbum homónimo de Diabo na Cruz. Para a edição em single recebeu nova mistura e masterização e foi editado num EP como oferta do álbum Diabo na Cruz. • "Saias" esteve quase para ser o primeiro single do álbum Diabo na Cruz, mas ficou para quarto. Jorge Cruz: «Saias foi uma das primeiras músicas a ficarem terminadas num processo relativamente longo de construção do terceiro disco. Durante algum tempo eu andava convencido que ia ser o principal single do álbum, só que depois começou a surgir a Vida de Estrada, Ganhar o Dia e Moça Esquiva, e acabaram por passar-lhe à frente. Esta é então uma forma de lhe dar um espaço próprio. E no disco há outras músicas fortes que poderiam fazer single. Já o facto de estarmos a lançar um quarto single é um bocadinho indulgente, já não se usa muito. Se calhar é um capricho, mas um bom capricho.» • Jorge Cruz sobre "Saias": «Acaba por contar a história do fascínio, do ponto de vista de um homem ou de um rapaz, pelo sexo feminino. Tem a ver também com o baile, são formas humorísticas de mexer com realidades que têm a ver com os conceitos de Diabo na Cruz e remetendo também ao que terão sido ao longo dos tempos os bailes e as danças e as saias a rodar.» • Jorge Cruz: «Saias pretendeu ser uma brincadeira com o próprio som de Diabo na Cruz. Foi uma canção escrita no Algarve, na cidade de Tavira, há dois anos [2012], na altura do Inverno. Estas canções do álbum foram normalmente escritas em sítios diferentes do país. Fala sobre os erros do passado, sobre homens e mulheres, a beleza das mulheres, o interesse que as mulheres provocam nos homens e como às vezes isso pode fazer com que os homens tomem más opções nas suas vidas.» • Jorge Cruz: «O verdadeiro sol-e-dó (embora aqui seja um Lá Ré) é o que inspira o início de Diabo na Cruz, esse lado meio chula, popular. E depois o lado de beat band, em que Saias se transforma, meio anos 50, meio aquela cena rock'n'roll que a banda também é, acho que é uma música que representa bem a ideia da banda desde o início.» • Jorge Cruz: «O Janita e o Vitorino, pessoas que eu muito admiro e com quem aprendi, quer ouvindo os discos, quer às vezes em conversas e encontros, têm em quase todos os discos uma música chamada Saias. Saias é uma moda que em zonas diferentes do país é utilizada com melodias e letras diferentes. Nós temos algumas músicas que têm títulos de modas tradicionais, mas que depois fazemos completamente à nossa maneira — o Siga a Rusga também faz a mesma coisa. E esta Saias basicamente pegou numa chamada da música tradicional e de repente comecei a escrever sobre saias assim, saias assado, e é uma música de homenagem à mulher portuguesa.» Comentários: • «As canções levantam na mesma sem o viagra do riff, como se o Diabo na Cruz – qual Obélix do punk popular português – tivesse caído num caldeirão de riffs quando era pequeno. Saias, por exemplo – ode maravilhosa à sensualidade feminina – é um clássico instantâneo, entrando para a história da música popular portuguesa à primeira audição.» Altamont • «[O álbum Diabo na Cruz tem] uma linguagem — por oposição ao anterior — acessível e uma vertigem pop. Isto traduz-se de forma imaculada numa estupenda canção como Saias, que soa a Bruce Springsteen circa Born In The USA acompanhado pelos Gaiteiros de Lisboa. Ao longo da canção, Cruz — que solta um “o-oh” igualzinho a Springsteen — enumera uma série de tipos de saias, umas “levantadas”, com o vento a entrar, e acaba a gritar “É ver prácreditar”. É daqueles temas que só os Diabo Na Cruz poderiam fazer: uma canção claramente sobre a beleza do sexo oposto mas que nunca chega a ser de mau gosto.» Ipsílon |
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