Mó de Cima

Sabe, sabe, o povo todo sabe
O que hoje está na mó de cima amanhã desaba
Sabe, sabe, o povo todo sabe
Não há escalada sem descida e o povo todo sabe

Catorze anos a morar no beco
Apadrinhado pela noite fria
Um caldo verde, meio papo seco
A barriga dava pulos de alegria
Tino no pino, um destino, pese o clima censório
Purgatório de mau vinho e bom bravado
Palmo a palmo, a avançar no território
O consultório diz "percorre-o como serpente no prado"

Não me venhas com brindes ou foguetes de palha porque
Sabe, sabe, o povo todo sabe
O que hoje está na mó de cima amanhã desaba
Sabe, sabe, o povo todo sabe
Não há escalada sem descida e o povo todo sabe

Tentas derrubar-me sem usar a disciplina
O teu forte é um atestado de fraqueza sórdida
Sempre aberto a um bigode de menina
Afogas pão em molho choco quando há cá secura tórrida
Ensinei-te tudo, tudo aquilo que sabia
Vens dos saldos de talento, lá carácter não havia
Se eu falo, tu dizes
Se eu provoco, tu irritas
Se eu me calo, tu tens crises
Já se invento, tu imitas
Não me venhas com brindes
Ou foguetes de palha
Não me toques, não me ligues
Limpa a baba da mortalha
Não te ponhas em bicos de pés
Outra vez
Nem dez de ti apoucarão
O prazer da gratidão

Sabe, sabe, o povo todo sabe 

O que hoje está na mó de cima amanhã desaba 
Sabe, sabe, o povo todo sabe 
Não há escalada sem descida e o povo todo sabe

Onde irás estudioso arqueiro 
Guardar o tal tesouro tão suado 
Se é no vale além de Courela 
Não passes da Ribeira tem cuidado

Sabe, sabe, o povo todo sabe 
O que hoje está na mó de cima amanhã desaba 
Sabe, sabe, o povo todo sabe 
Não há escalada sem descida e o povo todo sabe
Informações:
 Disponível no álbum Diabo na Cruz (2014).
Letra e música por Jorge Cruz.

Produzido por Jorge Cruz e Sérgio Pires.
Misturado por Nelson Carvalho.
Masterizado por Andy VanDette.

Curiosidades:
 Jorge Cruz sobre o significado da canção: «Mó de Cima é uma canção sobre o sucesso, sobre quando nos esquecemos de quando as coisas correm bem e nos comportamos como se fosse impossível voltarmos às profundezas do azar, digamos assim. É uma canção sobre a necessidade de sermos sensatos quando as coisas nos correm bem e de sermos muito positivos quando estamos numa fase difícil.»

 Jorge Cruz: «É um tema dedicado a qualquer pessoa que alguma vez tenha achado que por ter algum sucesso não ia sair do topo da montanha. E este disco é muito sobre esta coisa da gratidão, de aceitar que não se pode acertar sempre.»

Comentários:
 «As novas músicas foram escritas pelo país, essencialmente pelo Alentejo. O resultado são canções mais positivas que, mesmo sem a crítica mordaz dos outros discos, fazem sentir a textura do país, casos de Vida de Estrada e Mó de Cima, um tema bem actual que lembra o velho saber popular de que tudo o que sobe também desce.» Correio da Manhã