Lenga Lenga

Tenho uma roca de pau de figueira
Diz a minha mãe que eu não sou fiandeira
Diz meu pai, casar! Casar!
Diz a minha mãe que não tem que me dar
Diz meu pai que me dá uma cabra
Diz a minha mãe que a danada é brava
Diz meu pai, nós a amansaremos

Tenho um tear de madeira de pinho
Diz a minha mãe, não é estopa nem linho
Diz meu pai, casar! Casar!
Diz a minha mãe que não tem enxoval
Diz o meu pai que me dá uma leira
Diz a minha mãe, eu não sou lavradeira
Diz meu pai, nós amanharemos

Tenho dois fusos de ferro coado
Diz a mãe não dês de fiado
Diz meu pai, casar! Casar!
Diz a mãe que eu não tenho lençóis
Diz o meu pai que mos compra depois
Diz a mãe depois já é tarde
Diz meu pai que nós os esconderemos

Toca gaiteiro que nós dançaremos!


Informações:

 Disponível no EP Combate (2010).
Letra e Música: Popular/ Carlos Guerreiro/ José Manuel David/ José Mário Branco.
Produzido por Jorge Cruz.
Gravado, misturado e masterizado por Nelson Carvalho.

Curiosidades:
 "Lenga Lenga" é uma versão de uma canção tradicional portuguesa gravada pelos Gaiteiros de Lisboa para o álbum Invasões Bárbaras (1995).

 Os Gaiteiros de Lisboa são frequentemente referidos por Jorge Cruz como uma influência e inspiração para o som de Diabo na Cruz. Quando em 2011 lhe perguntaram as suas referências, Jorge Cruz respondeu assim: «Diria que o Diabo na Cruz se inscreve numa linhagem que nasce do José Afonso, avança com o Sérgio Godinho, o Fausto, o José Mário Branco e o Vitorino, tem um parente erudito na Banda do Casaco, dois parentes pop: Trovante e António Variações e 3 brilhantes renovadores contemporâneos: Janita Salomé, Amélia Muge e Gaiteiros de Lisboa.»

 Numa entrevista, Jorge Cruz disse o seguinte sobre os Gaiteiros de Lisboa: «Eu diria que o potencial dessa química [entre o rock e a tradição] já estava implícito no trabalho de outros grupos. Os Gaiteiros de Lisboa são um bom exemplo disso. Sem usarem cordas, muito menos instrumentos eléctricos, deixam adivinhar um elemento explosivo na sua música que serviu de inspiração para nós, mesmo antes da banda existir. Há uma parte do nosso trabalho que nasce das entrelinhas de uma certa música popular portuguesa onde descobrimos um legado que pretendemos sirva de mote para podermos ser simplesmente uma banda de rock, neste caso de roque popular.»

 Jorge Cruz: «Pá, são a melhor banda portuguesa dos últimos não sei quantos anos. A música portuguesa devia ser isto. Trazem alegria e celebração, defendem muito bem que a música portuguesa não é aquela coisa triste e sombria a que as pessoas a associam.»

 Jorge Cruz: «Os Gaiteiros tiveram um papel conceptual por detrás da existência de Diabo. Aliás, eu já tinha tido um grupo à volta do mesmo conceito que se chamou FanfarraMotor mas que nunca chegou a ter pernas para andar. Essa banda tinha a mesma intenção de Diabo na Cruz, mas felizmente acabou por não acontecer logo ali. Na altura eu era um groupiezinho de Gaiteiros, fui a 4 ou 5 concertos seguidos como se calhar hoje vejo algumas pessoas a fazerem com Diabo.»

 «Nós costumávamos fazer umas festas entre amigos em Aveiro e de vez em quando eu lançava uma música de Gaiteiros quando o pessoal já estava bastante com os copos, assim às 6 da manhã, e aconteciam coisas. Pá, parecia aquele teledisco dos anos 80 em que há uns gajos a saltar e depois há duendes e anões, aquilo era muito louco. E então aquilo sugeria uma certa música que se podia fazer e isso era Diabo na Cruz.»

 "Lenga Lenga" é a única versão que os Diabo na Cruz gravaram em disco, mas ao vivo já tocaram também uma versão de "Comboio" dos Trovante.