Corridinho do Verão

Há meninas à espera vamos lá pôr isto a andar
Só me esconde no armário quem se deixar assustar
O que sonhas eu já fiz, o que queres eu dispenso
Um cobói tem de ter lata para furar este silêncio

O Guru vem arranjado, o luar está bonito
Bota aí a macieira que eu empresto-te o apito
Quem me nega sabe bem o que eu penso e o que eu acho
Já bebeu do garrafão e da malga de gaspacho

Vai a chuva vem o sol, volta a chuva novamente
Só a enchada saberá o que o cangalheiro sente
Vai-te rindo meu amor que eu nasci para dar-te mimo
O que souberes eu aprendo, o que não souberes ensino

Vira o disco toca o mesmo, já começa a chatear
Do patrão à criadagem, ai, ninguém cuida do lar
Anda tudo acagaçado, se calhar não é para menos
A gente deste país parece que tem febre dos fenos

Há meninas à espera, vamos lá pôr isto a andar
Até sempre meus amigos que o festim vai acabar


Informações:
 Disponível no álbum Virou! (2009) e no EP Dona Ligeirinha (2009).
Letra: Jorge Cruz. 
Música arranjada por Diabo na Cruz a partir de canções de Jorge Cruz. 
Produzido por Jorge Cruz. 
Co-produzido por B Fachada e Nelson Carvalho. 
Misturado e masterizado por Nelson Carvalho. 

Curiosidades:
 "Corridinho do Verão" é uma versão com letra diferente de uma música nunca editada da banda FanfarraMotor, um antepassado de Diabo na Cruz que deu meia dúzia de concertos entre 2002 e 2003. Da FanfarraMotor faziam parte Jorge Cruz (cantor, guitarrista e autor das músicas), João Coração (bateria),  o trompetista Nuno Reis (Cool Hipnoise, Los Tomatos, Ena Pá 2000), o percussionista Nuno Encarnação (Mú) e o baixista Alexandre Mano (Superego).

 O "Guru" referido na letra é um homem com quem Jorge Cruz se cruzava quando viveu no Porto, na zona do Marquês. Sobre ele escreveu: «Era aquilo a que a maioria das pessoas chamaria um vagabundo mas, naquele tempo, era também a única pessoa no meu bairro com quem eu era capaz de me identificar. Ele não tinha dinheiro, não tinha interesse nos modos deste mundo funcionar, no entanto, transmitia uma espécie de alegria interior que era só sua, uma alegria louca que parecia não depender de nada nem de ninguém. Eu chamava-lhe “O Guru”. Costumava arranjar-lhe cigarros, um euro aqui e ali, mas nunca trocámos mais do que algumas palavras escassas. O certo é que este homem, “O Guru”, nunca esteve longe da minha mente quando me sentei, nos anos seguintes, a escrever canções. Os seus olhos cépticos e desesperados a cruzarem-se com os meus numa pergunta, “mas o que é que vem a ser isto?”, nunca deixaram de estar presentes na minha vida.»

Comentários:
 "É sobretudo [esta] canção que nos faz apostar meio salário em como alguma coisa de muito, muito bom para a música portuguesa pode vir a sair daqui. Trata-se de uma autêntica maravilha rítmica e dançante chamada "Corridinho do Verão", espécie de Fausto on acid, Algarve meets Brooklyn, ou, se quiserem, uma joint venture entre o Rancho Folclórico de Aljezur e os Franz Ferdinand. Num país onde se faz tanta música amnésica, ver gente a ligar a electricidade aos ritmos tradicionais é um consolo para a alma. Que Deus abençoe este Diabo.» Time Out

 «Virou! usa a noção de modernidade lançada por António Variações para obter resultados muito diferentes: aqui a combinação de raízes e cosmopolitismo também liga o Minho (e Trás-os-Montes, e o Alentejo) a Nova Iorque, mas tudo explode num alucinante e auto-explicativo Corridinho do Verão.» Expresso

 «As guitarras que admirámos em gente como os Bloc Party ou os Franz Ferdinand à bulha com a braguesa de Fachada que em canções como Corridinho de Verão fazem a festa.» Rua de Baixo