Alvorada canta o galo, aldeia nova O chão de sempre, a santa vida Vê-se o céu ensanguentado E o abutre junto à cova Mas ninguém dá a jornada por perdida Quantos filhos pelos séculos a Lisboa De paçãos a funcionários Eram moços de ovelhas Deram belos presidentes Com queda pra presidiários Bomba canção, bomba canção Canto artilhado Pró altar das feiras Já se foi Abril, fado pastoril Rodem ó parteiras Na parada dos heróis e vigilantes Era enorme a afluência Na parada dos culpados pela desgraça Ia um cão de duas patas sozinho na penitência E tu queres vir ensinar-me o que eu faço Quanta audácia, Cipião Sim, eu tenho ar de parolo e tu és parolo da cidade Mas qual de nós reluzirá na escuridão? Bomba canção, bomba canção Canto paviado de Óis a Montemuro Vai sarapatel e broa de mel Prá mesa do futuro Que bonito é Portugal De candeia na mão Sentado no sofá [Em frente à televisão] Findo o dia lá se esconde a varejeira Fé e ânsia em toda a parte Vou andando atrás de ti Só pra ver o pôr-do-sol Reflectido na traseira do teu Smart Bomba canção, bomba canção Canto artilhado pró fechar da feira Se era para sumir, toca a resistir Que hoje há baile na eira |
Informações: • Disponível no álbum Roque Popular (2012). Letra e Música de Jorge Cruz. Produzido por Jorge Cruz. Misturado por Tiago de Sousa. Masterizado por Andy VanDette. Curiosidades: • Bomba-Canção foi o segundo single do álbum Roque Popular. O vídeo contém imagens do filme Campo de Flamingos sem Flamingos, realizado por André Príncipe. • Jorge Cruz sobre Bomba-Canção, em entrevista à Blitz: «Essa canção responde a uma urgência interior e é talvez mais pessoal do que outros temas do disco. Claro que como portugueses não seremos originais se afirmarmos que há um lado em nós que não se importava de fazer implodir algumas estruturas da nossa sociedade. Mas interessante para nós é o facto de essa canção afirmar o nosso lugar. Já lhe chamaram manifesto e isso é interessante porque se calhar ainda não tínhamos um... o "Tão Lindo" era um manifesto... cómico, mas acho que isso passou pouco para as pessoas. Esta percebe-se melhor.» • O verso "E tu queres vir ensinar-me o que eu faço/ Quanta audácia, Cipião" é uma referência a Servílio Cipião, general romano que teve por missão a rendição incondicional dos lusitanos, que apenas conseguiu depois de mandar assassinar Viriato enquanto dormia. Comentários: • «Bomba-Canção é, de facto, um “canto artilhado” que dificilmente podia abrir melhor as hostes. Oferecendo uma energia e potência em quantidades nunca antes oferecidas pelos Diabo, é daqueles temas que só resta “sentir”. Poucas canções em 2012 terão este músculo.» Edição Limitada • «Bomba-Canção e quase todo o material dos geniais Diabo na Cruz é como fogo de artificio artesanal: é tão interessante como dizia na embalagem mas torna-se fantástico quando nos escapa ao controlo. Como na romaria, a festa dos Diabo faz-se no barulho ensurdecedor que abafa os gritos bêbados, bálsamo para as dores de corno até ao próximo feriado santo. O vídeo – fantástico – começa em Lisboa e acaba no interior, de Portugal e do português, uma coleta de André Príncipe a momentos do seu Campo De Flamingos sem Flamingos. E é Rock Roque.» Anita Vai ao Mel • «Roque Popular abre com um tema que não se ama à primeira audição, mas lá pela quinta ou sexta é impossível não ficar preso à sua força, ao seu grito. "Bomba-Canção" é o lado novo dos diabo na Cruz, com sombras de intervenção aliadas a um post-punk que brilha no escuro.» BandCom • «Roque Popular, começando na garra destilada em "Bomba-Canção" ou "Baile na Eira" (as duas primeiras do disco e excelentes cartões-de-visita: tic-tac incendiário como um cocktail molotov e pogo dance para malhar no terreiro sem dó nem piedade)» Bodyspace • «É um álbum do presente. Sobre nós e para nós. Não há palavras ditas ou cantadas ao acaso. Como também não há vergonha em assumir e combinar influências, umas mais populares, outras descaradamente rock e, porque não dizê-lo, também descaradamente pop. Exemplos? O tema de abertura, «Bomba-canção», onde se mostra como um riff de guitarra pode ser tocado com uma sonoridade popular. É como que doce para os nossos ouvidos.» Rua de Baixo • «Roque Popular não tem a mínima vontade de ficar preso à tradição: usa-a como matriz ou condimento enquanto despacha riffs grandiosos ou jinga redondo e suado. Sendo isto rock, a guitarra é a grande âncora do disco: está, sob a forma de riff poderoso, no centro dessa granada que é "Bomba-canção"» Ípsilon • «Roque Popular não abre com uma canção mas com um manifesto: 'Bomba canção, bomba canção/ canto artilhado/ pró altar das feiras", berra Jorge Cruz entre guitarras que descarregam mais electricidade do que a barragem de Alqueva e uma bateria a levar pancada como se fosse um fotógrafo no Chiado em dia de manifestação. Os Diabo na Cruz não perderam o jeito, e Roque Popular sabe ao que vem: ligar o campo a uma tomada de 220 V e proclamar um mundo novo para a música popular portuguesa.» Time Out • «O tema mais agitado e irresistível do álbum está logo no início: Bomba-Canção é um borbulhante bailinho com variações folk-progressivas onde pontifica um teclado que, infelizmente, se ouve muitas poucas vezes ao longo de Roque Popular.» Expresso |
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