Armário da Glória

No foyer do Maria Matos
Dei contigo a cortar no Malhadinhas
Não te basta gozar o meu bigode
E citar Paul Auster quando calças Josefinas

"Tenho um fraco por saloios como tu"
Confessas a tentar ter pena minha
Já no teu loft, entre o gin e o tofu
Um retrato do Andy Warhol a mirar-me da cozinha

Glória Margarida, o que é que andas a esconder?
Tu que gramas tudo o que é fixe alguém gramar
Glória Margarida, estou mortinho por escrever
A canção do teu armário

Queres levar-me ao Hansa Studio em Berlim
E tirar fotos, escorregar pelo salão
Quem sabe, estudar Brian Eno
Sim, porque eu se é Alemanha estudo Sérgio Conceição

Queres um mundo pra vocês outro pra nós
Que contemple um curral de onde viemos
Só que eu e tu tivemos os mesmos avós
Desce abaixo deste ramo solitário e bailemos

Glória Margarida, o que é que andas a esconder?
Tu que gramas tudo o que é fixe alguém gramar
Glória Margarida, estou mortinho por escrever
A canção do teu armário

Glória Margarida, o que tens tu a esconder?
Tu que sabes tudo o que é fixe alguém gostar
Glória Margarida, olha já estou a escrever
A canção do teu armário

Glória Margarida, onde é que tu te vais esconder?
Quando o povo se unir para cantar
Glória Margarida, fartinho de saber
A canção do teu armário

Glória Margarida, saberás reconhecer
Tu que topas o que está pra rebentar
Glória Margarida, olha acaba de nascer
A canção do teu armário



Informações:

 Disponível no álbum Diabo na Cruz (2014).
Letra e música por Jorge Cruz.

Produzido por Jorge Cruz e Sérgio Pires.
Misturado por Nelson Carvalho.
Masterizado por Andy VanDette.

Curiosidades:
• Armário da Glória inclui referências a ícones da cultura portuguesa como o Teatro Maria Matos, a obra Malhadinhas de Aquilino Ribeiro, o bigode de Jorge Cruz, a marca de calçado Josefinas ou o famoso hat-trick de Sérgio Conceição, o jogador que marcou três golos no jogo em que Portugal derrotou a Alemanha no Euro 2000.

• Armário da Glória não é sobre ninguém em particular mas sobre muita gente ao mesmo tempo. Jorge Cruz: «A Glória Margarida representa um certo tipo de apreciador de arte urbano que se agarra a ícones internacionais do cool para validar o seu bom gosto e, enquanto mantém uma estranha ignorância sobre o seu próprio país, vê as expressões artísticas dedicadas ao Portugal profundo como exotismos ou curiosidades que não lhe dizem respeito.»

Jorge Cruz: «É uma canção sobre os lisboetas, alguns lisboetas que olham para nós como os rapazes das montanhas que apareceram para cantar umas coisas do país profundo. Há uma parte das pessoas que gosta de ser cosmopolita, que gosta de ser moderna, que vêem o país profundo e a ruralidade como uma espécie de jardim zoológico onde estão umas pessoas muito diferentes. Esta canção é sobre esse tipo de pessoas e sobre o facto de que na verdade somos todos filhos da mesma família e não somos assim tão diferentes uns dos outros.»

• "Desce abaixo deste ramo solitário e bailemos" é uma referência ao verso "Sô aquente ramo frolido bailemos" de Catarina Nunes de Almeida, contido no livro Bailias (Deriva, 2011), onde recria as medievais cantigas de amigo e de amor. 

 Armário da Glória esteve quase para ficar de fora do álbum Diabo na Cruz. Jorge Cruz: «O Armário da Glória é a música preferida de muita gente na banda. Que eu até acho que é a música mais pop do disco porque é a que tem menos elementos tradicionais, tem um groove mais standard, pareceria de outra banda, e até esteve para não entrar no disco, por ser se calhar demasiado distante, não haver nenhum motivo que fosse evidentemente Diabo na Cruz, a não ser eventualmente a letra, mas houve uma insistência de dentro, entre nós, porque a música não nos saía da cabeça.» 

 No final de Armário da Glória há uma faixa escondida com a duração de 1 minuto chamada Vil'Alva a Vila Ruiva.

Comentários:
• «O que marca definitivamente Diabo Na Cruz são as melodias, coisas tão simples como o refrão de Armário da Glória (que menciona Sérgio Conceição!).» Ipsilon